por Alexandre Tabai Coelho
Sonhava em conhecer a cidade que tanto encanta casais
apaixonados e visitar um dos mais lindos monumentos do mundo que a cidade
oferece, além da visita ao gigantesco museu do Louvre.
Chegamos
a cidade com 4 dias antes da prova e fomos desbravar a cidade. Como sempre tudo
encanta e os passeios em sua maioria feitos a pé (não aconselho que assim o
façam, cheguem 2 dias antes da prova, vão a feira de esportes e entrega de kit
e deixem a visita para depois da prova, vão entender o por que). Caminhávamos
todos os dias para ir de um ponto a outro da cidade, pois a curiosidade e
vontade de ver tudo sempre é maior que qualquer fome ou algo que lhe faça
desmotivar.
Fui
a feira retirar o kit e bisbilhotar por coisas novas e aproveitar os preços que
sempre são muito melhores que os nossos. Tênis de todas as cores e marcas,
relógios, bermudas de corrida, enfim itens que não caberão em nosso
guarda-roupas mas são objeto de desejo de todo mundo. A prova acontece no mês
de Abril e coincide com a primavera, portanto com um clima ameno (isso para os europeus
kkk).
No
dia anterior a prova todo ritual necessário para a preparação: Separar a
suplementação a ser usada durante a prova, colocar o numeral no cinto, acertar
o aperto do tênis, carregar o relógio, meias e roupa a ser usada pré, durante e
pós prova, etc. Ritual esse que é feito e repassado um monte de vezes mesmo que
você não queira, sempre vai dar uma olhadinha para saber se esta tudo ali, isso
é inevitável e faz parte do clima da brincadeira.
No
dia da prova é acordar cedo para o café da manhã e se dirigir ao local da
largada. Como disse ameno o dia aos europeus mas um frio de doer para os não
acostumados brasileiros. Ia caminhado até a Champs Elysées (local da largada da
prova) e sentindo o nariz doer, as mãos e pés gelados e a sensação térmica
desagradável de um possível congelamento kkk.
Calma
eu pensava, tudo vai melhorar ao chegar na linha de largada, a ansiedade vai
tomar conta de você e esse frio vai passar kkk.. Mera ilusão. Com a gigantesca
Champs Elysées em minha frente e rodeada por prédios altos e canalizando o
vento a coisa ficou pior. Tentava buscar raios de sol que escapavam por entre
os prédios mas o espaço estava simplesmente lotado e os sortudos que conseguiam
isso não o largavam por nada.
Estou
eu todo encapusado, de roupas compridas (roupas essas que jogaria antes da
largada – essas maratonas grandes recolhem toda a roupa que os atletas usam no
pre prova para aquecimento e fazem doação a instituições de caridade, ou seja
tudo é reaproveitado, mas nem por isso você deve usar uma roupa muito nova.
Aconselho a comprar ou levar roupas que aqueçam e não lhe prenda
sentimentalmente a ponto de não dispensá-la após a corneta soar ou após os
primeiros quilômetros, depende de teu aquecimento) e tremendo igual vara verde
em pé, com os braços cerrados tentando a melhor forma de me aquecer, quando ao
olhar para o lado vejo um europeu (sei la de onde, provavelmente da Sibéria
kkk) somente de regata e shorts curto me olhando e rindo. O que será que
eaquele cara estava pensando ???
Em
meio a multidão encontro meu amigo de cidade e treino Luis Sturion e a conversa
e risadas ajudam a nos manter aquecidos até a largada (novamente venho frisar a
importância da regularidade dos treinos e auxílio de alguém habilitado para
isso, oque não fiz nessa prova kkk). Livrei-me das roupas que me aqueciam e em
meio a bate papos e tirar fotografias fui esquentando e aproveitando o nascer
do sol.
Ansiedade
para a largada e medo tomavam conta de mim pois não havia treinado para a prova
e não estava muito preparado para enfrentar a desafiadora distancia de uma
maratona, mas vamos que vamos, em frente até a linha de chegada.
Deu-se
a largada e aquele mar de gente começou a andar, a gritar e festejar o que para
muitos era a primeira prova, para outros mais uma no currículo e para outros um
desafio a ser rompido, no início vagarosamente pois a concentração de gente era
enorme e com o passar dos metros adiante aos nossos pés os espaços iam surgindo
e pudemos começar a correr. Incrivelmente isso aconteceu metros após passarmos
pelo pórtico da largada. Passada a ansiedade inicial nos voltamos a paisagem
imperdível que a prova proporciona.
Conhecer
Paris e entrar em lugares proibidos ao público durante o ano é fantástico.
Curtir a prova a paisagem oferecida já era uma recompensa que colocaria em meu
currículo e guardaria em minhas lembranças. A prova tem um percurso que mais parece um
roteiro turístico, passando pelos principais monumentos de Paris e cada passada
podia-se deslumbrar uma dessas belezas o que ajudava a esquecer que tínhamos
pela frente 42, 195km para enfrentar.
Entre alimentação, fotografia,
risadas e papos com meu companheiro de prova a distancia ia se consumindo e
oque parecia longo e sofrido começava a ficar prazeroso e divertido (assim deve
ser toda prova para que curta e não desista – volto a insistir no treinamento)
e assim o foi durante toda a maioria da prova. Com o passar das horas o calor
veio surgindo e o sol ficou a pino queimando e judiando de todos (agora eu
queria ver aquele europeu kkk , com certeza eu estaria melhor que ele). Pessoas
fantasiadas, com placas nas mãos, grupo de corredores e todo tipo de gente que
se possa imaginar estavam ali presentes curtindo a maratona e divertindo-se com
o público eufórico com o passar dos atletas.
Os Km foram passando e aquela
sensação de alegria e festividade ia dando sinais de cansaço e força. O
semblante das pessoas iam mudando km a km e o inevitável “quebrar” de alguns ia
acontecendo. Quando a falta de preparação acontece isso surge mais
inicialmente.
La íamos Luis e eu correndo pelos
corredores de prédios de Paris, passeando por parques, margeando o Sena e
curtindo a prova. Assim o foi até meus km 38 onde meu semblante mudou e passei
a sofrer com a falta de treino. A coxa e panturrilha endureciam em ondas de
contrações me avisando que as câimbras chegariam. A coisa estava ficando
apertada para mim e Luisinho sorrindo e tirando fotos kkkk.
Tentei ignorar as dores, me
distrair com as pessoas, mas naquele momento já não conseguia mais observar a
paisagem, nem achava graça da banda que tocava para animar os últimos km da
prova.
Me rendi e fiz oque NUNCA se deve
fazer, falei a mim mesmo só faltam 4km e alguns metros. Afff ao mentalizar isso
parece que aqueles 4km eram 40 e a perna pesou muito mais. Vendo que não daria
conta de manter o ritmo e não querendo prejudicar o Luis que fazia questão de
me acompanhar, pedi para ele seguir que eu chegaria, talvez mais doído que ele
mas chegaria. Atendendo a meu pedido assim ele fez e no km 39 partiu solo para
a linha de chegada. As passadas deles me fizeram sentir vontade de ter treinado
mais e me vi abandonado no meio de estranhos. Essa sensação é a pior de todas
para um atleta.
O medo de não chegar, quebrar e
ficar por ali sentindo o gosto da chegada e impossibilitado de fazer qualquer
coisa pois o corpo já não respondia mais. Diminuí meu ritmo e as graças do
posto de hidratação apareceram no km 38,300m. Peguei uma água que mais serviria
como remédio milagreiro, joguei nas pernas e disse a mim mesmo :- Vai, força,
agora você só para na linha de chegada. Aperta esse ritmo que foi pra isso que
veio. Comecei com passos mais largos e ritmo aumentado e novamente um sorriso
me surgiu nas bochechas, mas.... Meu corpo me sabotou.. Na hora que eu mais
precisava dele e achava que havia vencido mais uma vez e que eu podia mais que
a própria dor, veio uma câimbra que travou minha coxa direita... Isso já
estavam vencidos 40km e alguns metros e me vi pulando igual um saci torto,
olhando aos lados para ver quem riria de mim.
Nessa mistura de desgosto e dor
comecei a rir de mim mesmo e lembrei da frase de Luisinho: “- quem estuda em
casa vai bem nas provas” . Ai que dor na coxaaaa.... Parei, alonguei, mais agua
benta kkkk e voltei caminhando por 200m. Senti que a coisa não ia melhorar e
resolvi enfrentar as dores até alinha de chegada. A beleza da prova acabou e a
luta agora era comigo mesmo, tinha que enfrentar aquilo que seria uma barreira
e terminar uma prova que até ali havia sido linda e inesquecível pelos momentos
de descontração e beleza.
Sofri, doeu, mas consegui cruzar a
tao esperada linha de chegada e avistei meu companheiro que já me espera com um
copo d´água e um caloroso abraço da vitória.
Independente da beleza da prova,
da distancia, do lugar em que está, o mais importante de tudo é estar preparadp
para aquilo e poder contar com o companheirismo de amigos e pessoas que te
agradam. Valeu Luis.
Bônus !! Audio dica de Márcio Atalla !!
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Olá !!
Muito obrigado pela participação !!
Conte comigo !!
Dezim
VG