Por Guilherme Baron
Quando entrei no mundo da corrida, 3 anos atrás. Já tinha lá
dentro aquele sentimento do que queria passar. Queria correr uma Maratona.
Queria fazer um Ironman. Lógico, eu queria passar por todas essas “super”
provas onde a gente vê o pessoal se mantendo concentrado durante horas e horas
a fio, correndo atrás de um sonho, de um objetivo. Comigo não foi diferente mas
não podia compartilhar isso ainda pois era algo muito distante para alguém que
sequer conseguia trotar por 2000 metros! Naquela época, essas palavras eram
realmente apenas sonhos distantes.
Depois que começamos a nos exercitar, a correr, os sonhos
deixam de ser sonhos e passam a estar a apenas uma sequência de treinos e um
punhado de dedicação. Quanto maior os seus treinos e a sua dedicação, mais
rápido e mais preparado você estará para as competições. Pular etapas é algo
perigoso e complicado e ao longo dos anos eu aprendi que correr um Short
Triathlon é importante para fazer um Olímpico e consequentemente este é muito
bom de fazer antes de um Meio Iron. Assim como correr 10kms e algumas Meias te
dará uma boa base do que esperar em uma Maratona. Depois da primeira vez que
trotei os 2200m ao redor do lago pequeno do Parque Barigui, em Curitiba, tinha
certeza que algum dia iria fazer o Ironman. Lógico, não sabia quando
aconteceria.
Meia Maratona de Florianópolis em 2012. 1:40 hora e pace de 4:45min/km
O fato é que depois de vencer meus primeiros 10kms em 2010,
minha primeira Meia Maratona em Março/2011 e minha primeira Maratona em
Novembro/2011, via que era hora de atacar o triathlon. Afinal de contas, eu
nadei durante muito tempo quando era adolescente e pedalar é algo que sempre
gostei e já havia comprado uma bicicleta do tipo Speed para poder encarar as
provas por volta de Junho/2011. Já vinha dando minhas ensaiadas nos treinos de
triathlon durante o ano de 2011. Nadava na hora do almoço, 2x por semana e
pedalava nos finais de semana na estrada, correndo de cerca de 3x por semana. O
que faltava apenas era me inscrever nas provas e começar a correr atrás destes
desafios diferentes! O segundo semestre de 2011 passou rápido e após terminar a
Maratona em Novembro, sabia que faria o Triathlon de Longa Distância em
Caiobá/PR em Abril/2012. Era tudo uma questão de dedicação e treinos. Teria 6
meses para treinar para aquela prova e mesmo nunca tendo participado de uma,
tinha me programado para fazer pelo menos 2 ou 3 Shorts antes do Long Distance.
Para aqueles que não sabem, o Long Distance (ou Triathlon de
Longa Distancia) é exatamente um Meio Ironman. 1800m de Natação, 90km de
Ciclismo e 21km de Corrida. Profissionais terminam esta prova na casa das 4
horas. Eu, com toda minha experiência, pretendia no mínimo terminá-la, sem
sequer imaginar algum tempo para isso. Uma programação de longo prazo
envolvendo treinos e competições deve também levar em consideração que podem
acontecer acidentes de percurso. Quem não vive do esporte e tem família, tem
que saber administrar a expectativa familiar versus os seus treinos e também
levar em consideração acordar as 4:30 para poder treinar e estar trabalhando as
8:30 da manhã. Festas, eventos e outros encontros acabam ficando restritos pois
com certeza por volta das 22 horas você fica um bagaço e vai estar dormindo.
Além disso, lembro de várias vezes acordar no meio da noite para comer, com uma
fome animal (engana-se quem pensa que Bariátrico não sente fome) já que o
metabolismo está muito acelerado então o negócio era levantar da cama, comer um
pão com geleia e voltar a dormir.
Em minha cabeça, tinha o seguinte cronograma até a prova:
- 1 Short Triathlon em Guaratuba em Dezembro;
- 1 Travessia de 1500m em Caiobá (exatamente na praia onde seria o Long) em Janeiro;
- 1 Short Triathlon em Guaratuba em Fevereiro;
- 1 Sesc Triathlon (Short) em Março;
- 1 Meia Maratona de Florianópolis em Março;
- 1 Long Distance em Abril.
- 1 Travessia de 1500m em Caiobá (exatamente na praia onde seria o Long) em Janeiro;
- 1 Short Triathlon em Guaratuba em Fevereiro;
- 1 Sesc Triathlon (Short) em Março;
- 1 Meia Maratona de Florianópolis em Março;
- 1 Long Distance em Abril.
Bom, lógico que no papel tudo funciona. Na realidade foi
outra história:
- Short de Dezembro abortado pois não consegui fazer nada
por 3 semanas depois da Maratona em Novembro;
- Travessia de 1500m em Janeiro, feita show de bola!!!! Condições do mar adversas, bem batido e mesmo assim foram 22 minutos nos 1500m. Muito bom;
- Short de Fevereiro acabou virando Duathlon por problemas na natação (aguas-vivas invadiram o litoral paranaense);
- Sesc Triathlon em Março acabou substituído pela Meia Maratona de Paris (ganhei uma promoção, mas isso fica para outro post);
- Meia Maratona de Floripa saiu para 1:40 hora. Meu melhor tempo em Meia Maratona até hoje. Dia perfeito, corrida perfeita;
- Travessia de 1500m em Janeiro, feita show de bola!!!! Condições do mar adversas, bem batido e mesmo assim foram 22 minutos nos 1500m. Muito bom;
- Short de Fevereiro acabou virando Duathlon por problemas na natação (aguas-vivas invadiram o litoral paranaense);
- Sesc Triathlon em Março acabou substituído pela Meia Maratona de Paris (ganhei uma promoção, mas isso fica para outro post);
- Meia Maratona de Floripa saiu para 1:40 hora. Meu melhor tempo em Meia Maratona até hoje. Dia perfeito, corrida perfeita;
Chegada,
com meu grande amigo Romulo, do Short que virou Duathlon em Guaratuba
Foram meses e meses de treinos. 7 dias por semana dedicados
exclusivamente aos treinos. Entretanto final de Janeiro/2012 troquei de emprego
e passei a viver na ponte aérea Curitiba -> São Paulo durante a semana e
isso prejudicou bastante meus treinos (principalmente Natação e Ciclismo). Tive
que arranjar uma academia com piscina em São Paulo e passar a fazer Spinning
também. Se por um lado, a distância com a família era um motivo a mais para
passar 2 ou 3 horas na academia durante a semana. Por outro, a mesma distância
em alguns momentos trazia a depressão do quarto do hotel à tona e fazia com que
um dia de treino se perdesse, quando ficava no quarto do hotel sem forças para
encarar uma noite de treinos. Se retornava para Curitiba na quinta à noite,
sexta era natação as 5:00 da manhã na antiga academia que fazia. Sábado cedo,
mesmo ficando longe de casa a semana toda, era dia de sair para treinar por 4
horas pelo menos. Três horas de pedal e mais uma hora de corrida logo em
seguida. Saía de casa as 6 da manhã e retornava perto do almoço. Lógico que
estes treinos exaustivos não me privavam de levar uma vida de pai e marido.
Tinha que voltar do treino, fazer churrasco para os filhos e depois ainda tinha
que subir em telhado, limpar calha, pintar parede, ... entre outras obrigações.
hahaha. Domingo então... tinha mais umas 3 horas de treino e depois tudo se
repetia. De Janeiro a Abril o ritmo foi esse. Cerca de 16 semanas de treinos
intensos, não apenas no NadaPedalaCorre mas também com brigas e discussões em
casa me prepararam não tão bem quanto eu esperava para a prova. Em termos de
treinos, a natação foi a mais prejudicada. É incrível como o corpo sofre quando
ficamos 1 semana sem nadar. Se você fica 1 semana sem correr, cansa um pouco
mas fica tudo bem. Pedalar, sem problemas, agora para nadar, se eu ficasse mais
que 4 ou 5 dias sem cair na piscina já era um caos. A corrida era o que melhor
eu treinava. Como é o esporte que exige menor logística, basta um tênis na mala
e pronto, já dá para sair correndo, era o que eu melhor fazia. Pedalar também
era prazeroso porém eu sempre brincava dizendo que a bicicleta era igual a uma
amante pois exige muito cuidado e grana para sustentá-la. :)
Momentos antes da largada,
apreensão!
E então o famigerado dia do Long Distance chegou. A prova
para a qual eu vinha me dedicando nos últimos tempos, junto com amigos que
iriam fazer o Ironman 2012 e treinávamos juntos seria o meu maior desafio desde
o dia que decidi sair do sofá e passar a correr. Sim, se alguém me perguntar o
que é mais difícil, uma Maratona ou os primeiros 1000m, direi que este primeiro
quilômetro é o mais difícil de todos. Me sentia preparado, estava feliz,
treinado e muito bem fisicamente e psicologicamente. Sabia que seriam pelo
menos umas 5:30 horas de briga contra meu corpo e que aquela batalha não seria
fácil.
Voltando
para a água para a segunda volta na natação
Hora da Largada, centenas de pessoas pulam na água e dão
início aos 1900m da natação. O mar estava muito bom para nadar porém devido a
minha falta de treino nas três semanas antes da prova, senti muito e saí bem
cansado desta etapa. Isso não era um bom sinal e os 50 minutos de natação me
mostraram que o dia seria bem longo. Durante a T1, não tive dificuldades em
retirar a roupa de borracha e calçar as meias e a sapatilha. Minha saída para
pedalar acabou coincidindo com a de um grande amigo que treinávamos juntos e
por sorte do acaso, estávamos pedalando juntos logo no começo quando o banco da
bicicleta dele desceu e eu tinha uma chave para que ele pudesse arrumá-lo.
Depois de entregar a chave para ele, subi novamente na bicicleta e parti para
os 90km de "pura diversão". Minha meta era fazer o percurso em 3 horas
ou menos, mantendo uma média de 30km/h. O percurso era na estrada, praticamente
plano e envolvia 45kms de ida e sua volta. Um pedal muito bom porém com muito
vento na segunda parte. Este vento, já aliado ao cansaço da natação e a vontade
de manter os 30km/h de média foram cruciais para eu enterrar de vez a minha
prova. Terminei o pedal em 3 horas (até este momento, já totalizava quase 4
horas de prova) muito cansado e esgotado. Durante estas 3 horas, mantive-me
alimentado com sanduíche, gel, R4 e outras coisas afinal era um longo trecho
heeheh, tudo conforme instruções da minha Nutricionista Esportiva (que também
estava fazendo a prova).
Durante o ciclismo, mantendo o sorriso na hora de passar pela família
A saída da T2 foi rápida. Entre deixar a bicicleta e sair
para correr não perdi muito tempo. A corrida era dividida em 3 voltas de 7kms
cada (sendo 3500m para ir e 3500m para voltar, em uma avenida beira-mar) com
visual espetacular. Saí empolgado pois na área de transição encontrei minha
família dando força e a gente sempre quer mostrar que é guerreiro e que está
com tudo. O ritmo de início de corrida foi em torno de 5:00min/km mas isso não
durou muito tempo. Depois de 3km comecei a sentir o cansaço bater e o ritmo foi
caindo, caindo, caindo. As cãibras já tomavam conta de mim e alguns quilômetros
cheguei a caminhar inteiro. Só passava a correr mesmo quando ia chegando perto
da área de transição e sabia que minha família estava esperando. Foi a mais
longa Meia Maratona que já participei. Aquilo parecia não ter fim. O corpo já
não respondia mais, estava rodando no automático. É incrível o que mais de 5
horas faz com você.
Na última volta da corrida, parando para alongar com minha filha pois as cãibras já estavam demais.
No final da terceira e última volta, fui amparado pela minha
família. Correram todos juntos comigo durante alguns metros. Minha filha me
acompanhou e isso foi muito importante pois me deu uma grande força. Lá na
frente, via o pórtico de chegada. Cruzei a linha com toda a minha família com
6:34 horas sendo que levei quase 2:30 horas para fazer os 21kms de corrida.
Jamais imaginei fazer aquele tempo, porém o importante é que tinha terminado,
mais um desafio tinha sido concluído e então podia comemorar!!!
Fim de
prova! Mais uma prova vencida com muito orgulho e sofrimento
Até hoje me perguntam quando farei um Ironman. Durante 2012
continuei participando de provas de triathlon fazendo o Sesc Brasília (Maio) e
outros dois Olímpicos (um em Agosto e outro em Dezembro). Entretanto devido ao tempo
necessário para se dedicar aos treinos, acabei decidindo que em 2013 eu iria
apenas correr pois queria melhorar meus tempos neste quesito. Para 2014 devo
voltar a me dedicar ao triathlon mas só depois de estar muito bem na corrida.
Tenho aprendido muito e crescido demais nesta modalidade e sei o quanto isso
será importante no futuro. Sobre o Ironman??? Já tenho uma data, hehehe...,
2017 na Nova Zelândia (já que toda a família sofre durante os treinos, então
todos vão aproveitar no dia da prova). Até lá, pode ser que muita coisa mude
mas uma coisa é certa, a paixão pelo esporte que desenvolvi ao longo dos
últimos anos só aumenta.
O importante é nos conhecer como pessoas e sabermos os
nossos limites. Desde que comecei a praticar esportes descobri que não tenho
limites quando quero algo. Basta determinação e vontade. Vale lembrar que o
mais importante de tudo é ter disciplina, perseverança e principalmente
acompanhamento profissional pois sempre levei isso a sério e a razão por vencer
esta batalha foi justamente ter uma treinadora por trás que pode me auxiliar no
período de treinos e também uma nutricionista para poder dar conta da
alimentação não só no dia da prova como em todos os dias de treino. Afinal, se
já não bastasse a gente treinar 2 ou 3 horas por dia, ainda precisamos ingerir
umas 4.000 kcal para dar conta de tudo!
Márcio "MedidaCerta" Atalla falou hoje para CBN sobre "Atividade Física logo ao levantar da Cama"
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Dezim
VG