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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Maratona de Paris

por Alexandre Tabai Coelho

 


           

            Sonhava  em conhecer a cidade que tanto encanta casais apaixonados e visitar um dos mais lindos monumentos do mundo que a cidade oferece, além da visita ao gigantesco museu do Louvre.

Chegamos a cidade com 4 dias antes da prova e fomos desbravar a cidade. Como sempre tudo encanta e os passeios em sua maioria feitos a pé (não aconselho que assim o façam, cheguem 2 dias antes da prova, vão a feira de esportes e entrega de kit e deixem a visita para depois da prova, vão entender o por que). Caminhávamos todos os dias para ir de um ponto a outro da cidade, pois a curiosidade e vontade de ver tudo sempre é maior que qualquer fome ou algo que lhe faça desmotivar.

Fui a feira retirar o kit e bisbilhotar por coisas novas e aproveitar os preços que sempre são muito melhores que os nossos. Tênis de todas as cores e marcas, relógios, bermudas de corrida, enfim itens que não caberão em nosso guarda-roupas mas são objeto de desejo de todo mundo. A prova acontece no mês de Abril e coincide com a primavera, portanto com um clima ameno (isso para os europeus kkk).

No dia anterior a prova todo ritual necessário para a preparação: Separar a suplementação a ser usada durante a prova, colocar o numeral no cinto, acertar o aperto do tênis, carregar o relógio, meias e roupa a ser usada pré, durante e pós prova, etc. Ritual esse que é feito e repassado um monte de vezes mesmo que você não queira, sempre vai dar uma olhadinha para saber se esta tudo ali, isso é inevitável e faz parte do clima da brincadeira.

No dia da prova é acordar cedo para o café da manhã e se dirigir ao local da largada. Como disse ameno o dia aos europeus mas um frio de doer para os não acostumados brasileiros. Ia caminhado até a Champs Elysées (local da largada da prova) e sentindo o nariz doer, as mãos e pés gelados e a sensação térmica desagradável de um possível congelamento kkk.

Calma eu pensava, tudo vai melhorar ao chegar na linha de largada, a ansiedade vai tomar conta de você e esse frio vai passar kkk.. Mera ilusão. Com a gigantesca Champs Elysées em minha frente e rodeada por prédios altos e canalizando o vento a coisa ficou pior. Tentava buscar raios de sol que escapavam por entre os prédios mas o espaço estava simplesmente lotado e os sortudos que conseguiam isso não o largavam por nada.

Estou eu todo encapusado, de roupas compridas (roupas essas que jogaria antes da largada – essas maratonas grandes recolhem toda a roupa que os atletas usam no pre prova para aquecimento e fazem doação a instituições de caridade, ou seja tudo é reaproveitado, mas nem por isso você deve usar uma roupa muito nova. Aconselho a comprar ou levar roupas que aqueçam e não lhe prenda sentimentalmente a ponto de não dispensá-la após a corneta soar ou após os primeiros quilômetros, depende de teu aquecimento) e tremendo igual vara verde em pé, com os braços cerrados tentando a melhor forma de me aquecer, quando ao olhar para o lado vejo um europeu (sei la de onde, provavelmente da Sibéria kkk) somente de regata e shorts curto me olhando e rindo. O que será que eaquele cara estava pensando ???

Em meio a multidão encontro meu amigo de cidade e treino Luis Sturion e a conversa e risadas ajudam a nos manter aquecidos até a largada (novamente venho frisar a importância da regularidade dos treinos e auxílio de alguém habilitado para isso, oque não fiz nessa prova kkk). Livrei-me das roupas que me aqueciam e em meio a bate papos e tirar fotografias fui esquentando e aproveitando o nascer do sol.











Ansiedade para a largada e medo tomavam conta de mim pois não havia treinado para a prova e não estava muito preparado para enfrentar a desafiadora distancia de uma maratona, mas vamos que vamos, em frente até a linha de chegada.
Deu-se a largada e aquele mar de gente começou a andar, a gritar e festejar o que para muitos era a primeira prova, para outros mais uma no currículo e para outros um desafio a ser rompido, no início vagarosamente pois a concentração de gente era enorme e com o passar dos metros adiante aos nossos pés os espaços iam surgindo e pudemos começar a correr. Incrivelmente isso aconteceu metros após passarmos pelo pórtico da largada. Passada a ansiedade inicial nos voltamos a paisagem imperdível que a prova proporciona.
Conhecer Paris e entrar em lugares proibidos ao público durante o ano é fantástico. Curtir a prova a paisagem oferecida já era uma recompensa que colocaria em meu currículo e guardaria em minhas lembranças. A prova  tem um percurso que mais parece um roteiro turístico, passando pelos principais monumentos de Paris e cada passada podia-se deslumbrar uma dessas belezas o que ajudava a esquecer que tínhamos pela frente 42, 195km para enfrentar.
 
Entre alimentação, fotografia, risadas e papos com meu companheiro de prova a distancia ia se consumindo e oque parecia longo e sofrido começava a ficar prazeroso e divertido (assim deve ser toda prova para que curta e não desista – volto a insistir no treinamento) e assim o foi durante toda a maioria da prova. Com o passar das horas o calor veio surgindo e o sol ficou a pino queimando e judiando de todos (agora eu queria ver aquele europeu kkk , com certeza eu estaria melhor que ele). Pessoas fantasiadas, com placas nas mãos, grupo de corredores e todo tipo de gente que se possa imaginar estavam ali presentes curtindo a maratona e divertindo-se com o público eufórico com o passar dos atletas.
Os Km foram passando e aquela sensação de alegria e festividade ia dando sinais de cansaço e força. O semblante das pessoas iam mudando km a km e o inevitável “quebrar” de alguns ia acontecendo. Quando a falta de preparação acontece isso surge mais inicialmente.
La íamos Luis e eu correndo pelos corredores de prédios de Paris, passeando por parques, margeando o Sena e curtindo a prova. Assim o foi até meus km 38 onde meu semblante mudou e passei a sofrer com a falta de treino. A coxa e panturrilha endureciam em ondas de contrações me avisando que as câimbras chegariam. A coisa estava ficando apertada para mim e Luisinho sorrindo e tirando fotos kkkk.
Tentei ignorar as dores, me distrair com as pessoas, mas naquele momento já não conseguia mais observar a paisagem, nem achava graça da banda que tocava para animar os últimos km da prova.
Me rendi e fiz oque NUNCA se deve fazer, falei a mim mesmo só faltam 4km e alguns metros. Afff ao mentalizar isso parece que aqueles 4km eram 40 e a perna pesou muito mais. Vendo que não daria conta de manter o ritmo e não querendo prejudicar o Luis que fazia questão de me acompanhar, pedi para ele seguir que eu chegaria, talvez mais doído que ele mas chegaria. Atendendo a meu pedido assim ele fez e no km 39 partiu solo para a linha de chegada. As passadas deles me fizeram sentir vontade de ter treinado mais e me vi abandonado no meio de estranhos. Essa sensação é a pior de todas para um atleta.
O medo de não chegar, quebrar e ficar por ali sentindo o gosto da chegada e impossibilitado de fazer qualquer coisa pois o corpo já não respondia mais. Diminuí meu ritmo e as graças do posto de hidratação apareceram no km 38,300m. Peguei uma água que mais serviria como remédio milagreiro, joguei nas pernas e disse a mim mesmo :- Vai, força, agora você só para na linha de chegada. Aperta esse ritmo que foi pra isso que veio. Comecei com passos mais largos e ritmo aumentado e novamente um sorriso me surgiu nas bochechas, mas.... Meu corpo me sabotou.. Na hora que eu mais precisava dele e achava que havia vencido mais uma vez e que eu podia mais que a própria dor, veio uma câimbra que travou minha coxa direita... Isso já estavam vencidos 40km e alguns metros e me vi pulando igual um saci torto, olhando aos lados para ver quem riria de mim.
 


Nessa mistura de desgosto e dor comecei a rir de mim mesmo e lembrei da frase de Luisinho: “- quem estuda em casa vai bem nas provas” . Ai que dor na coxaaaa.... Parei, alonguei, mais agua benta kkkk e voltei caminhando por 200m. Senti que a coisa não ia melhorar e resolvi enfrentar as dores até alinha de chegada. A beleza da prova acabou e a luta agora era comigo mesmo, tinha que enfrentar aquilo que seria uma barreira e terminar uma prova que até ali havia sido linda e inesquecível pelos momentos de descontração e beleza.
Sofri, doeu, mas consegui cruzar a tao esperada linha de chegada e avistei meu companheiro que já me espera com um copo d´água e um caloroso abraço da vitória.
Independente da beleza da prova, da distancia, do lugar em que está, o mais importante de tudo é estar preparadp para aquilo e poder contar com o companheirismo de amigos e pessoas que te agradam. Valeu Luis.
 





 



Bônus !! Audio dica de Márcio Atalla !!

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